quinta-feira, 22 de junho de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (26)]


Este “post” é continuação do anterior. Além das observações nele anotadas, talvez seja conveniente fazer mais algumas.

Antes de mais, a reafirmação de Camilo em vir para Viana, apesar das dúvidas (pressu)postas por José Barbosa e Silva (JBS), em carta(s) ou conversa(s) anterior(es) que se desconhecem. «Sou menos versátil do que me conceituas» - como que replica o Escritor. O seu crescente enojamento (social, certamente; afetivo, provavelmente) por certa gente do Porto é argumento para manter o seu interesse no Aurora e por casa em Viana. Veja-se, não obstante, como deposita toda a confiança no amigo, quanto à localização da casa, circunstâncias físicas e condições para a saúde: a tua resolução será a minha, remata.

Depois, lembrar que entre as coisas pequenas e indispensáveis, de que deseja incumbir JBS, em princípios de setembro de 56, estaria a estante para os livros, referida na carta transcrita no “post” de 16/06.

A filha do epistológrafo, já o paciente leitor sabe quem é: Bernardina Amélia. E D. Isabel é a freira do Convento de S. Bento da Avé Maria, no Porto, amante do Escritor e madrinha (educadora) da menina. [(Re)ver “posts” de 10/05 e de 24/05] Camilo, perante a proximidade da sua projetada e desejada vinda para Viana, deve ter dito algo que levou Isabel Cândida Vaz Mourão a profetizar que iria, em breve, ser abandonada. Perante o (pres)sentido sofrimento da amante, Camilo está disposto a não transigir, isto é, que seja a amante a transigir. Só que… logo veremos.

O Timbre era jornal que surgiu em Viana para rivalizar com o Aurora do Lima. Àquele periódico já me referi nos “posts” de 15/06 e no anterior. A esta rivalidade não deve ser estranha a orientação ideológica de um outro periódico. João Maria Batista de Oliveira, «major de artilharia na guarnição de Viana, foi um dos fundadores e redactor» do Aurora. Abandonou esta função «precisamente um mês depois», em janeiro de 1856. De sua autoria é o editorial do n.º 1 (15/12/1855) deste jornal.
Este major é quem assina, juntamente com E. Furtado Coelho, o editorial do n.º 1 de O Timbre, saído em 02/07/1856. E, «na primeira e segunda páginas deste primeiro número», publica ainda um artigo, intitulado «Parte Religiosa».
Esta efémera folha (terminou a sua publicação em 21/10/1856) timbrava por se assumir «jornal religioso, político e comercial». A ordem dos qualificativos não é, certamente, arbitrária. Ressalta da leitura destes textos uma clara oposição à orientação editorial do Aurora. [Cf. VIANA & BARROSO, 2009: 78-79 e 506-507. Ver também CABRAL, 1984 (I): 113, a propósito desta rivalidade jornalística.]
Note-se, de novo, como Camilo defende um jornalismo sério, feito por escritores graves, a ponto de, quando necessário, responder às vilanagens de outros. Concorda, também por isso, com o aumento de páginas do Aurora, desde que, sendo barato e bem cheio, sirva para acabar com a farrapagem provinciana.

Camilo revela ao amigo de Viana que se prepara uma revolta militar, a favor da Regeneração, mas pede que o Aurora dela não faça anúncio. O general (depois marechal) Ferreira é José Gerardo Ferreira Passos (1801-1870) [Biografia]. O Saldanha é, o marechal João Carlos Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e Daun, também conhecido como duque de Saldanha. [Biografia]. Trata-se de duas importantes figuras da história do Liberalismo, em particular do conturbado período da Regeneração (1853-1868). Tempos estes que o Escritor retrata em muita da sua obra romanesca, histórica e jornalística.

 

E que mais?

Haverá, ainda, muitos “posts” sobre as relações de Camilo com o Aurora. No próximo, retranscreverei uma carta interessantíssima a este respeito. E aparentemente negadora da tese que defendo. Se fosse a última e a última palavra do Escritor sobre o assunto…

 

Até ao próximo, então!
E continue a (re)ler Camilo. Por exemplo: A Bruxa do Monte Córdova (1867) ou Maria da Fonte (1885).

Referências:
Além das indicadas no ”post” anterior:

VIANA, Rui A. Faria & BARROSO, António José, 2009: Publicações Periódicas Vianenses. Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo.

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